Diário de um Químico Digital 3.0

Química, TICs e outras treconologias. :)

Molécula do dia – Cafeína — 14/04/2010

Molécula do dia – Cafeína

Closeup photo of brown beans
Aproveitando que hoje é o dia internacional do café, resolvi fazer um post sobre essa molécula tão nossa conhecida e companheira de noitadas de correção de provas e testes, a cafeína.

NOME IUPAC1,3,7-trimetil-1H-purina- 2,6(3H,7H)-diona
OUTROS NOMES1,3,7-trimetilxantina, trimetilxantina, metilteobromina, 7-metilteofylina, teína, mateína, guaranina

CARACTERÍSTICAS:

A cafeína é uma substância de sabor amargo, de aspecto cristalino branco, pertencente à classe dos alcaloides conhecidos como xantinas, é uma droga estimulante psicoativa.

Photo of a wide powder.

Ela foi descoberta pelo Químico alemão Friedrich Ferdinand Runge, em 1819. Ele cunhou o termo "kaffein" (cafeína) a partir da palavra em alemão "kaffee", que significa obviamente "café".

A cafeína é encontrada em quantidades variáveis em grãos, folhas e nos frutos de algumas plantas, onde ela age como um pesticida natural que paraliza e mata certos tipos de insetos que se alimentam das plantas. Ela é mais comumente consumida pelos humanos na forma de infusões dos grãos da planta do café e das folhas do arbusto de chá, bem como de vários alimentos e bebidas que contém produtos derivados da noz de cola (alguém aí pensou em Coca-Cola ou Pepsi-Cola?).

Outras fontes de cafeína são as folhas da erva-mate (o famoso chimarrão da minha terra), frutos do guaraná, etc.

 

Em humanos, a cafeína é um estimulante do Sistema Nervoso Central (SNC), apresentando o efeito de temporariamente deixar a pessoa desperta e alerta. Beberagens contendo cafeína, tais como café e chá, bem como bebidas energéticas, têm grande popularidade.

A cafeína é a substãncia psicoativa mais consumida no planeta, mas, diferentemente de outros psicoativos, ele é legal e não=-regulamentada em praticamente todas as jurisdições. 

Além disso, a cafeína possui propriedades diuréticas, ao menos quando administrada em doses suficientes a sujeitos que não apresentem tolerância a ela. O problema é que os usuários podem desenvolver uma forte tolerância à cafeína.

Muitas outras coisas podem ser ditas sobre a cafeína, sugiro que vocês consultem esse verbete da Wikipedia caso tenham interesse em saber mais sobre a cafeína.

Molécula do dia – Luminol — 27/03/2010

Molécula do dia – Luminol

O Luminol é uma molécula bem interessante e está em voga no noticiário dos últimos dias.

Pensando nisso, resolvi escrever algumas coisas sobre ele e fugir um pouco da linha "molécula do dia" que eu vinha escrevendo.

Essa molécula reage com a hemoglobina presente no sangue e, ao fazê-lo, produz luz. 

O fenômeno é conhecido como "QUIMILUMINESCÊNCIA", e é bem conhecido nosso, já que os vaga-lumes produzem luz através do mesmo fenômeno, embora usando moléculas diferentes.

Para exibir luminescência, o luminol deve ser primeiramente ativado com um oxidante. Comumente, uma solução de peróxido de hidrogênio (H2O2) e um hidróxido metálico aquoso são usados como ativadores. Na presença de um catalisador como o ferro presente no sangue, o peróxido decompõe-se e forma oxigênio e água.

2 H2O2 → O2 + 2 H2O  

O pessoal da Química Forense vai a uma cena de crime, borrifa uma mistura de luminol/peróxido de hidrogênio (água oxigenada)/hidróxido de sódio onde há suspeita de haver sangue derramado, apaga as luzes ou escurece o ambiente.

Se houver sangue, aparecerá uma mancha colorida e brilhante no local, a qual é registrada por fotografias de longo tempo de exposição. A luminosidade dura em torno de 30 segundos.

No processo, o luminol perde átomos de nitrogênio e hidrogênio e adquire átomos de oxigênio, os quais têm seus elétrons em estado energético excitado. A reação completa está descrita a seguir, retirei a figura da Wikipedia.

Reactions leading to the chemiluminescence of luminol.

Rapidamente, os elétrons excitados do produto da reação entre luminol e água oxigenada voltam ao estado fundamental e, ao fazê-lo, liberam fótons, os quais percebemos como a luminosidade característica do luminol.

Ele, no entanto, pode dar falsos positivos, pois o luminol pode reagir com outras substâncias. A água sanitária (solução de hipoclorito de sódio – NaClO) é uma dessas substâncias. 

Cobre ou ligas metálicas contendo cobre podem dar falsos positivos, assim como raíz forte, matéria fecal e sangue presente em urina.

Outros testes, mais específicos, devem ser usados em adição ao teste com luminol em caso de dúvidas. Outra substância quimiluminescente, conhecida como fluoresceína, é usada para confirmar a presença de sangue.

A fórmula química do luminol está descrita abaixo:

Luminol.svg

Seu nome IUPAC é 5-Amino-2,3-dihidro-1,4-ftalazinadiona.

Ele é sintetizado a partir do ácido 3-nitroftálico.
Para isso, a hidrazina é aquecida com ácido 3-naftoftálico em um solvente aquecido à ebulição, tal como o trietilenoglicol. Uma reação de condensação ocorre, com a perda de água, formando formando 5-nitroftalohidrazida. 

A redução do grupo nitro a um grupo amina com sódio ditionita produz luminol (Na2S2O4).

Luminol synthesis.png

A primeira vez em que ele foi sintetizado foi em 1902, na Alemanha. Ele recebeu o nome de luminol apenas nos anos de 1920.

Ah, e se você clicar nesse link, vai encontrar uma representação interativa da molécula. Basta clicar no desenho dela e aguardar uma nova janela carregar.


Molécula do dia – Ibuprofeno — 20/03/2010

Molécula do dia – Ibuprofeno

Ibuprofeno, seu nome vem da nomenclatura química ácido iso-butil-propanoico-fenólico.

É um composto não-esteroide anti-inflamatório originalmente comercializado no mercado como Nurofeno e desde então sob várias outras marcas comerciais.

É usado para o alívio de sintomas de artrite, dismenorreia primária, febre, e como um analgésico, especialmente onde existe um componente nflamatório. 

O ibuprofeno é conhecido por apresentar um efeito de espessamento do sangue, embora seja relativamente leve e de curta duração quando comparado a outras drogas com efeito similar.

História

O ibuprofeno foi desenvolvido pela divisão de pesquisa da Boots Group na década de 1960. Seu descobridos foi Stewart Adams, juntamento com os colegas John NIcholson e Colin Burrows. Sua patente foi registrada no ano de 1961. A droga foi lançada como adequada para o tratamento de artrite reumatoide no Reino Unido em 1969, e nos EUA em 1974.

Dr. Adams testou sua droga durante uma ressaca (deve ter bebido pouco, né?). Recebeu um prêmio em 1987 por sua descoberta, e a empresa para a qual ele trabalhava recebeu o Queen’s Award For Technical Achievement no mesmo ano.

Acredita-se que a droga iniba a ciclooxigenase (COX), inibindo assim a síntese da prostaglandina. 

O nome IUPAC da molécula é: ácido (RS)-2-(4-(2-metilpropil)fenil)propanoico.

Estereoquímica

Ibuprofeno, assim como outros derivados 2-arilpropionatos (incluindo cetoprofeno, flurbiprofeno, naproxeno, etc), contém um carbono quiral na posição Î±, com o potencial para diferentes efeitos biológicos na molécula de propionato. Existem dois possíveis enantiômeros para o ibuprofeno, cada enantiômero tem diferentes atividades biológicas e metabólicas. De fato, verificou-se que o (S)-(+)-ibuprofeno (d-ibuprofeno) é a forma ativa do medicamento. Assim, houve uma melhora no processo produtivo do fármaco a fim de produzir um medicamento que contivesse apenas o enantiômero ativo, culminando com o lançamento do naproxeno. No entanto, devido ao alto custo de produção de um enantiômero único, descobriu-se que existe uma enzima do tipo isomerase (2-arilpropionil-CoA epimerase) que converte o (R)-ibuprofeno à forma ativa (S)-ibuprofeno. Assim, muitas formulações de ibuprofeno são vendidas como misturas racêmicas.

Nomes comerciais

Advil, Brufen, Dorival, Espidifen (Espanha), Herron Blue, Panafen, Motrin, Nuprin, Burana, IbuHEXAL, Ibusal e Ibumax (Finlândia), Dolormin ou Nurofen (Alemanha), Ipren ou Ibumetin (Dinamarca e Suécia), Ibuprom (Polônia), Fenpaed ou Nurofen (Irlanda) e (Reino Unido), Moment (Itália), Ibux (Noruega), Ibalgin (República Tcheca), Bupuren (Coreia do Sul), Alivium, AdvilDalsy (Brasil), Neofen (Croácia), Nurofen (Turquia), Algofren (Grécia) e Eve (Japão))


Fonte: World of Molecules (Ibuprofen)

Molécula do dia – Morfina — 08/03/2010

Molécula do dia – Morfina

Morfina (C17H19NO3) é um analgésico opiáceo de alta potência, é o principal agente ativo do ópio e dos opioides. Como outros opiáceos (diacetilmorfina ou heroína), a morfina age diretamente no sistema nervoso central (SNC) no alívio da dor. 

Estudos acerca da eficácia de vários opioides têm indicado que, no gerenciamento de dores severas, nenhum outro narcótico analgésico é mais efetivo ou superior à morfina. A morfina é altamente viciante quando comparada a outras substâncias; a tolerância e a dependência física e psicológica desenvolve-se muito rapidamente. 
A palavra "morfina" é derivada e Morfeu, o deus grego dos sonhos.
 

Química

Nome IUPAC: (5α,6α)-7,8-didehydro-4,5-epoxy-17-methylmorphinan-3,6-diol

Estrutura:

File:Morphine-2D-skeletal.png

A maior parte da morfina lícita produzida é usada para preparar codeína por metilação. É também um precursos para a heroína (diacetilmorfina), hidromorfona e oximorfona.

A substituição do grupo N-metílico da morfina por um grupo N-feniletílico resulta em um produto que é 18 vezes mais potente que a morfina. Combinando essa modificação com a substituição da 6-hidroxila por um 6-metileno produz um composto 1440 vezes mais potente que a morfina, mais forte que os compostos de Bentley (como a etorpina, por exemplo).

Tanto a morfina quanto sua forma hidratada, C17H19NO3H2O, são pouco solúveis em água. 

Em cinco litros de água, apenas um grama do hidrato dissolverá. Por essa razão, as companhias farmacêuticas produzem sais de sulfato e de hidrocloreto dessa droga, ambas as quais são 300 vezes mais solúveis em água do que sua molécula-mãe.

Ao passo que o pH de uma solução saturada em hidrato de morfina é 8,5, os sais são ácidos. Desde que eles derivam de um ácido forte e uma base fraca, ambos apresentam pH em torno de 5 (ácido); como consequência, os sais de morfina são misturados com pequenas quantidades de NaOH (base) para torná-los injetáveis.

É interessante notar que a morfina foi recentemente descoberta como sendo um produto endogenamente formado por humanos, feito por células do coração, pâncreas e cérebro. Também tem sido isolado de uma gama de outros mamíferos, bem como de sapos e outros invertebrados. Ainda é incerto, entretanto, qual o papel da morfina endógena.

História e uso não-medicinal

Foi isolada pela primeira vez em 1804 em Paderborn, Alemanha pelo farmacêutico alemão Friedrich Wilhelm Adam Sertarner, o qual batizou o composto de "morphium" emhomenagema Morfeu, o deus grego dos sonhos. Mas até o desenvolvimento da agulha hipodérmica em 1853 o composto não era amplamente utilizado. A partir daí, a morfina passou a ser usada para alívio da dor, e como uma "cura" para o vício em ópio e álcool.

Mais tarde foi descoberto que a morfina era mais viciante que o álcool ou o ópio, e seu extensivo uso durante a Guerra Civil Americana resultou em 400.000 afetados pelo "mal dos soldados" causado pelo vício em morfina. Essa situação tem sido assunto de controvérisa, assim como tem sido sugerido que tal doença é, de fato, uma farsa e o mal dos soldados nunca veio a existir após o término da Guerra Civil.

Diacetilmorfina (mais conhecida como heroína) foi derivada da morfina em 1874 e trazida ao mercado por Bayer em 1898 (olha ele aí de novo). Heroína é aproximadamente 1,5-2 vezes mais potente que a morfina em uma base miligrama-a-miligrama. Usando uma variedade de medidas subjetivas e objetivas, a potência relativa da heroína em relação à morfina administrada intravenosamente a pós-viciados é de: 1,80 mg de sulfato de morfina equivalem a 1 mg de heroína. 

A farmacologia da heroína e morfina são idênticas exceto por dois grupos acetila que aumentam a solubilidade em lipídios da molécula de heroína, e assim a molécula entra no cérebro um pouco mais rapidamente.

Os grupamentos adicionais são então removidos, rendendo a morfina, a qual é a causadora dos efeitos subjetivos da heroína. Entretanto, os efeitos da morfina e heroína são idênticos, exceto que a heroína é ligeiramente mais potente e age ligeiramente mais rápido.

A morfina, juntamente com a heroína e cocaína, são proibidas e sua posse sem prescrição foi criminalizada pelo governo americano em 1914.

Em 1952, Dr. Marshall D. Gates Jr, foi a primeira pessoa a sintetizar quimicamente a morfina na Universidade de Rochester. Essa síntese é bem reconhecida no campo da química orgânica.

A morfina era o narcótico analgésico mais comumente abusado no mundo até que a heroína fosse sintetizada e passasse a ser usada. Mesmo hoje, a morfina é droga mais procurada por viciados em heroína quando essa se mostra escassa. 

Gírias (em inglês) para a morfina incluem M, Big M, Miss Emma, morph, morpho, Murphy, cube, cube juice, White Nurse, Red Cross, mojo, hocus, 13, Number 13, mofo, unkie, happy powder, joy powder, first line, Aunt Emma, coby, em, emsel, morf, dope, glad stuff, goody, God's Medicine, God's Own Medicine, hard stuff, morfa, morphia, morphy, mud, sister, Sister Morphine, stuff, white stuff, white merchandise e outros.

 
 
Molécula do dia – Tilenol — 02/03/2010

Molécula do dia – Tilenol

 

Ficheiro:Paracetamol-skeletal.svgSeguindo a minha série de moléculas interessantes, vocês ficam hoje com a minha tradução livre para o texto sobre o paracetamol.

E, para aqueles que são estudantes de Química, tem umas partes sobre a síntese do fármaco que podem ser interessantes lá no final do texto.

Paracetamol ou acetaminofeno é o metabólito ativo da fenacetina, um analgésico derivado do alcatrão.

Diferentemente da fenacetina, o paracetamol não apresenta efeitos carcinogênicos em nenhum nível. Ele tem propriedades analgésicas e antipiréticas, mas, ao contrário da aspirina, não é muito efetiva como agente anti-inflamatório.

 

Ela é bem tolerada, carece de muito esfeitos colaterais da aspirina, e é vendido sem prescrição médica, por isso é comumente usado para o alívio da febre, dores-de-cabeça, e outras dores menores.

O paracetamol é também utilizável no gerenciamento de dores mais severas, ela permite dosagens menores de drogas adicionais anti-inflamatórias do tipo não-esteroidal ou de analgésicos opiáceos (derivados do ópio, que loucura :), minimazando os efeitos colaterais globais desses medicamentos.

O paracetamol é um ingrediente majoritário em numerosos medicamentos contra resfriados e gripes, incluindo tilenol e panadol, entre outros. Ele é considerado seguro para uso humano; entretanto, doses agudas podem causar danos hepáticos fatais comumente agravadas pelo uso de álcool, e o número de auto-envenenamentos acidentais e suicídios tem crescido nos anos recentes.

As palavras acetaminofeno e paracetamol vêm dos nomes químicos dos compostos:

paraacetilaminofenol e paraacetilaminofenol

A marca comercial tilenol também deriva desse nome: para-acetilaminofenol

História

Nos tempos antigos e medievais, conhecidos agentes antipiréticos eram compostos contidos na casca do salgueiro branco (uma família de compostos químicos conhecidos como salicinas, veja post anterior), e compostos contidos na casca da cinchona.

Casca de cinchona também era usada para criar a droga anti-malária conhecido por quinino (ou quinina), a qual possui efeitos anti-piréticos. Esforços para refinar e isolar a salicina e o ácido salicílico foram feitos na metade e final do século XIX, e foram completados por Bayer (não o das calças jeans, mas o outro que era dono da indústria química) e por Feliz Hoffmann (isto também foi conseguido pelo químico francês Charles Frederic Gerhardt 40 anos mais tarde, mas ele abandonou o trabalho após decidir que era impraticável).

 

Quando a árvore da cinchona tornou-se escassa nos anos 1880, as pessoas começaram a procurar por alternativas. Duas alternativas antipiréticas foram desenvolvidas nessa época: acetanilida em 1886 e fenacetina em 1887.

Harmon Northrop Morse sintetizou primeiro o paracetamol via redução do p-nitrofenol com estanho em ácido acético glacial em 1878; entretanto, o paracetamol não foi usado em tratamentos médicos por outros 15 anos. Em 1893, o paracetamol foi descoberto na urina de indivíduos que tinham ingerido fenacetina, e foi concentrada em um composto branco, cristalino com sabor amargo. Em 1889, o paracetamol foi identificado como um metabólito da acetanilida. Esta descoberta foi largamente ignorada naquela época.

Em 1946, o Institute for the Study of Analgesic and Sedative Drugs concedeu uma bolsa ao New York City Department of Health para estudo dos problemas associados com agentes analgésicos. Bernard Brodie e Julius Axelrod foram designados para investigar por que agentes não-aspirínicos eram associados com o desenvolvimento de metemoglobinemia, uma condição que diminui a capacidade de carreamento de oxigênio do sangue e é potencialmente letal. Em 1948, Brodie e Axelrod conseguiram associar o uso de acetanilidade com a doença e determinaram que o efeito analgésico da acetanilida era devido ao seu metabólito ativo paracetamol. Eles recomendaram o uso de paracetamol, desde que ele não apresentava os efeitos tóxicos da acetanilida.

O produto foi vendido primeiramente em 1955 pelos Laboratórios McNeil como um aliviante da febre infantil, sob o nome comercial de Elixir Tylenol para Crianças.

 

Em 1956, tabletes de 500 mg de paracetamol foram vendidos no Reino Unido sob a marca comercial Panadol, produzidos por Frederick Steam & Co, uma subsidiária da Sterling Drug Inc. Em 1958, uma fórmula infantil de panadol passou a ser vendida.

A patente americana do paracetamol já expirou faz tempo, versões genéricas da droga são amplamente disponíveis no mercado, embora algumas formulações estejam protegidas até o ano de 2007 sob a patente US 6,126,967 arquivada em 3 de setembro de 1998. (ou seja, a patente já venceu também a essa altura do campeonato).

<Dr. Chatoff mode on>

Química

Estrutura e Reatividade

O paracetamol consiste de um anel benzênico, substituído por um grupamento hidroxila e o átomo de nitrogênio de um grupo amida na posição para (1,4). O grupamento amida é a acetamida (etanamida). Ele constitui um sistema extensivamente conjugado, assim como o par isolado no oxigênio da hidroxila, a nuvem eletrônica pi do benzeno, o par isolado sobre o nitrogênio, o orbital p no carbono carbonílico, e o par isolado no oxigênio carbonílico estão todos conjugados. A presença de dois grupos ativadores também faz com que o anel benzênico seja altamente reativo em relação à substituição eletrofílica aromática. Como os substituintes são orto, para-diretores e para com respeito um ao outro, todas as posições no anel estão mais ou menos ativadas. A conjugação também reduz enormemente a basicidade dos oxigênios e do nitrogênio, enquanto fazem com que a hidroxila seja mais ácida através da deslocalização da carga desenvolvida no ânion fenóxido.

Síntese do paracetamol

Partindo do fenol, o paracetamol pode ser feito da seguinte maneira:

  1. O fenol é nitrado usando ácido sulfúrico e nitrato de sódio (como o fenol é altamente ativado, sua nitração requer condições muito brandas se comparado à mistura de ácido sulfúrico-ácido nítrico fumegante requerida para nitrar o benzeno).
  2. O isômero para é separado do isômero orto por destilação fracionada (existirá um pouco do isômero meta, já que o OH é orto-para-diretor).
  3. O 4-nitrofenol é reduzido a 4-aminofenol usando um agente redutor como o sódio borohidreto em meio básico.
  4. 4-aminofenol reage com anidrido acético a fim de produzir o paracetamol.

Note que a síntese do paracetamol carece de uma dificuldade muito significativa inerente a quase todas as sínteses de drogas. Falta de estereocentros significa que não existe necessidade de desenvolver uma síntese estereosseletiva. Sínteses industriais mais eficientes estão também disponíveis nos dias de hoje.

Notice that the synthesis of paracetamol lacks one very significant difficulty inherent in almost all drug syntheses: Lack of stereocenters means there is no need to design a stereo-selective synthesis. More efficient, industrial syntheses are also available.

<Dr. Chatoff mode off>

FONTE:World of Molecules

P.S.:Versão 3D da molécula aqui.

Molécula do dia – Aspirina — 24/02/2010

Molécula do dia – Aspirina

Aspirina é o nome comercial criado pela Companhia Bayer da Alemanha para o ácido acetilsalicílico, parte da família dos salicilatos, comumente usado como um analgésico, antipirético e anti-inflamatório.

A Aspirina é uma droga não-esteroide anti-inflamatória.

Ela era comumente usada para controlar a febre e a dor causadas por resfriados ou gripes. 

Há uma conexão entre o uso de aspirina e o bloqueio da formação de uma substância que auxilia no espessamento do fluido sanguíneo (tromboxano A2), ela vem sendo usada em tratamentos prolongados e de baixa dosagem para prevenir problemas cardíacos.

Os salicilatos são produzidos nas frutas como um mecanismo de defesa natural

Como derivada da casca do salgueiro, a substância é bastante ácida e pode provocar problemas intestinais graves. Outro efeito colateral da aspirina deve-se às suas propriedades anticoagulantes, ela causa aumento no sangramento menstrual.

Os salicilatos são produzidos pelas frutas como um mecanismo de defesa: induzindo células danificadas ou doentes a cometer suicídio. O homem moderno tem uma preferência por frutas e vegetais em estado perfeito, com aparência impecável, isso tem feito com que comamos menos salicilatos que no passado.

Há um estudo publicado no European Journal of Nutrition (vol. 40, p. 289) que indica sopas contendo vegetais orgânicos contém aproximadamente seis vezes mais salicilatos que os seus equivalentes não-orgânicos.

História

Hipócrates, o pai da medicina moderna, escreveu no século V A.C sobre um pó amargo extraídp da casca do salgueiro que podia curar dores e reduzir febres. este remédio é também mencionado em textos da antiga Suméria, Egito e Assíria. Os índios nativos americanos usavam esse extrato para dores de cabeça, febre, dores musculares, reumatismo e calafrios.

O Reverendo Edmund Stone, um vigário de Chipping Norton em Oxfordshire (Inglaterra), observou em 1763 que a casca do salgueiro era efetiva na redução da febre, mas a sua explicação para tal fato continha muitos erros.   

O extrato ativo do salgueiro, chamado salicna, graças ao nome Latino para o salgueiro branco (Salix alba), foi isolado em sua forma cristalina em 1828 por Henri Leroux, um farmacêutico Francês, e por Rafaelle Piria, um químico Italiano, o qual teve sucesso em separar o ácido em seu estado puro. A salicina é altamente ácida quando em solução saturada de água (pH = 2,4), e é chamada de ácido salicílico por essa razão. O nome sistemático do ácido salicílico é ácido 2-hidroxibenzoico. (fórmula abaixo).

File:Salicylic-acid-skeletal.svg

Esta substância química foi também isolado da ulmária (ou barba-de-bode, ou filipêndula, ou spiraea) por pesquisadores alemães em 1839. Apresentava eficácia, mas também causava problemas digestivos e diarreia. Podia até mesmo matar em altas dosagens. Em 1897 Feliz Hoffmann, um químico que trabalhava para Friedrich Bayer & Co. na Alemanha, derivatizou (criou um similar químico a partir do ácido salicílico) o grupo funcional hidroxila (-OH) adicionando um grupamento acetila (formando o éster acetila), o que reduzia os efeitos colaterais nocivos e negativos da droga.

File:Aspirin-skeletal.svg

O novo produto foi nomeado a- (por causa do grupo acetila) -spir- (por causa da flor) -ina (uma terminação comum para uma droga naquela época). Apresentava menos efeitos colaterais e era mais efetiva que a salicina ou o ácido salicílico. Esta foi a primeira droga sintética da história humana moderna, não uma cópia ou algo que existisse na natureza, e foi o início da indústria farmacêutica. Bayer registrou a aspirina como uma marca comercial em 6 de Março de 1899.

Entretanto, a companhia Alemã perdeu o direito de usar a marca em muitos países na medida que os aliados se apoderaram da fórmula da droga e dos ativos da empresa alemã após a I Guerra Mundial. nos EUA, o direito ao uso do termo “Aspirina” foi comprado do governo americano por Sterling Inc em 1918. Mesmo após a patente ter caído em domínio público em 1917, a Bayer tem sido incapaz de impedir os competidores de copiar a fórmula e usar o seu comercial, e com isso tem-se um mercado inundado de clones da droga, com um público incapaz de reconhecer “aspirina” como sendo propriedade de um único fabricante. Sterling também foi incapaz de evitar que o termo “aspirina” se tornasse uma marca genérica (e portanto desprotegida) em uma corte federal em 1921. 

E essa foi a história da aspirina, outro dia eu conto como um outro Sr. Bayer foi capaz de ganhar um prêmio Nobel. Posso adiantar que ele influenciou muita gente ao redor do mundo com a sua descoberta, principalmente os que gostam de usar calças jeans.

 

 

FONTE: Aqui tem uma representação interativa em 3D da molécula de aspirina.